quarta-feira, julho 02, 2008

“Bias” nas teorias da aprendizagem?

By Ole Skovsmose



Eu quero descrever algumas fotos do livro O berço da desigualdade feito por Sebastião Salgado. As fotos demonstram situações diferentes na escola, e condições diferentes para aprender. Veremos fotos de jovens refugiados do sul do Sudão em Quênia sentados na sombra de grandes árvores. A sombra da árvore representa uma sala de aula. Um camelo caminha ao redor da sala de aula. Veremos uma foto de estudantes do Kurdistão no Iraque que levam lenha para o aquecimento da sala de aula. Nós veremos estudantes do Afeganistão muito concentrados quando o professor explica sobre cuidados com bombas e minas. Nós veremos sala de aula escura e sinistra, vazia de equipamento educacional, mas cheia de alunos. Essas fotos ilustram condições para aprendizagem.

Teorias sobre aprendizagem assumem algumas condições para aprendizagem. Quando estudamos as descrições da sala de aula publicadas em revistas de pesquisa em educação matemática, essas transcrições muitos vezes representam uma perspectiva particular sobre as situações de aprendizagem. Nessas descrições normalmente não existe muito barulho. Os estudantes têm livros didáticos. Existe um computador, se necessário. Os estudantes não têm fome. Não existe um camelo ao redor da sala de aula. Essas situações eu chamo de sala de aula prototípica: são prototípicas na a pesquisa paradigmática na educação matemática.

Mas a sala de aula que é prototípica na pesquisa da educação matemática, não é prototípica nesse mundo. As fotos no O berço da desigualdade só são especiais em relação a teorias de aprendizagem de educação matemática, mas não especiais em relação as condições das crianças ao redor do mundo. É importante lembrar isso enquanto analisamos teoricamente as práticas na sala de aula.

Referência

Salgado, S. e Buarque, C. (2005). O Berço da Desigualdade. São Paulo: Editora UNESCO no Brasil.

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